sábado, 17 de outubro de 2009

Livros: Uma Paixão Escancarada

por Flávia Fernandes



Esse ano o presidente Lula sancionou a Lei que institui o Dia Nacional da Leitura, como sendo o dia 12 de outubro e a Semana Nacional da Leitura e da Literatura, que recai ao Dia Nacional da Leitura, semana essa em que comemoramos também, o dia do professor.

Para muitos talvez esse dia não signifique nada, mas para os apaixonados por livros, como eu, esse é um dia a ser comemorado com muito carinho e, porque não, com um texto em homenagem ao meu grande companheiro de todas as horas, os livros?

Não sei bem quando foi que essa paixão começou. Lembro-me de quando era criança, minha mãe com a responsabilidade de cuidar de quatro filhos pequenos, se desdobrava na criatividade pra manter os pequenos ocupados e sem aprontar. Dentre essas distrações, me via próxima aos livros.

Não sabia ler ainda, mas já ficava virando as páginas dos livros, olhando as figuras e criando minhas próprias estórias, meus personagens favoritos e imaginando que um dia, poderia entender o que havia escrito naquelas letrinhas miúdas.

Meu maior ouvinte era meu irmão. Na hora de fazê-lo dormir, pedia que contasse historinhas e eu sempre procurava esses livros e fantasiava de acordo com minha imaginação. Era bacana que todos os dias algo mudava e ele sempre me cobrava o fato de que no dia anterior havia sido diferente, mas eu dizia que, quando eu fechava o livro, aquelas letrinhas se misturavam e modificava a estória, que aquele era um livro mágico e assim, ele ia ouvindo meus contos.

Era bom deixar a imaginação fluir e o melhor era que, em meus contos, quase não havia vilões. Naquelas páginas, eu criava o meu mundo perfeito.

Depois de algumas mudanças de casa e de cidade, fui parar num colégio muito bem organizado, muito limpo e rígido no ensino e, logo no primeiro dia, levaram-me à biblioteca pra que eu conhecesse. Ao entrar naquela sala imensa, cheia de estantes abarrotadas de livros para toda a idade escolar, senti-me como num sonho. Era como se eu fosse uma pequena garota, rodeada de grandes livros, cheio de personagens amigos, vivendo num mundo perfeito.

Por alguns instantes, tudo ficou mudo à minha volta e eu só ouvia os sons da minha imaginação e, de repente, interrompi a professora que estava me explicando sobre a biblioteca e perguntei: “Professora, é muito caro pra comprar livros aqui? É que minha mãe não pode comprá-los, mas eu gosto muito de ler!”

A pergunta foi inocente, mas a professora, com um belo sorriso que ainda não me esqueço, passou a mão nos meus cabelos loirinhos e disse: “Meu bem, aqui não precisa pagar pra ler os livros. Você pode pegar emprestado por alguns dias, levar pra casa pra ler e, quando terminar, devolva. Pode pegar quantas vezes quiser, só precisa cuidar.”

Estudei por 8 anos naquela escola e, devo ter lido no mínimo, metade daquele acervo. Passava horas na biblioteca lendo, pesquisando e, na ânsia de ler mais de um livro na semana, pedia emprestado um livro de poucas páginas, passava a tarde inteira lendo e, antes de voltar pra casa, já pegava outro, pra ter a felicidade de somar quantidades de páginas em minha vida.

O tempo passou, saí de lá, mas os livros continuaram me acompanhando de alguma forma. Quando chegou a hora de prestar o vestibular, li o que era obrigatório e também o que era sugerido. Que delícia que era, quando algum professor indicava livros. Eu os devorava!

A vida foi generosa comigo, não posso me queixar. Pelo menos no que diz respeito aos livros.

Precisei ir trabalhar cedo, pra ajudar nas despesas de casa. Conheci muita gente e, como era difícil pagar, o jeito era emprestar dos amigos. Li muito livro em pé no metrô ou em ônibus, reduzi a hora de almoço pela metade pra poder ler alguns capítulos e até me escondi debaixo das cobertas, com uma lanterna, pra poder ler e minha mãe pensar que eu estava dormindo.

Um belo dia – que eu realmente o considero belo! – tive a oportunidade de conseguir um emprego bom, uma oferta irrecusável, um presente da vida! Fui contratada pra trabalhar numa livraria!

Que sonho bom! Foram treze anos, rodeada de livros. Em todos os cantos, eram páginas e mais páginas que enriquecem os conhecimentos, que trazem informação, que trazem distração, que nos afastam ainda que só por algumas horas, do mundo real pro mundo da fantasia.

Essa paixão pelos livros já virou vício, já virou obsessão, pois não há uma única noite em que me deito sem ler, no mínimo, um capítulo de algum livro que esteja por perto.

Faço filas deles pra ler. Priorizo aqueles que viraram filmes pra poder assistir depois. Leio livro em outro idioma que não entendo, só pra exercitar a imaginação; Já cheguei ao cúmulo de ler até enquanto dirigia, no trânsito infernal de São Paulo.

Não tenho nenhuma mania em especial, quando estou lendo, mas gosto de colocar música instrumental pra tocar e essa relação de música com livro deixa uma marca gostosa na lembrança.

Há alguns meses, li novamente o livro Feliz Ano Velho e, durante toda a leitura, tocava em ordem randômica a música Illumination do Secret Garden e agora, sempre que ouço essa música, me vem à lembrança o livro e também algumas sensações que senti enquanto lia.

Feliz aquele que tem no livro, um grande companheiro de aventuras, de fantasia, de amor ou de aprendizado. Feliz aquele que consegue viver alguns momentos, a mesma relação que o autor do livro vive, ao escrevê-lo!

Esse texto é uma homenagem aos livros, aos escritores, aos leitores e aos professores, grandes mestres que nos ensinam a maravilhosa arte de ler e escrever!