domingo, 30 de maio de 2010

Eu tinha apenas 6 anos

No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido (João e Maria, Chico Buarque)


por Flávia Fernandes


Era São João e estávamos na casa da vovó. Meus pais e meus irmãos, meus bisavós, meus avós, meus tios e todos os primos. A farra estava garantida.

No quintal, uma fogueira muito bem cuidada pelo meu tio que mantinha a garotada há uma distância segura.

Na cozinha, o milho estourava na panela e aquele aroma delicioso de pipoca invadia o ambiente, fazendo com que nos colocássemos em fila, mas enlouquecendo a vovó que não dava conta de servir a todos. Havia ainda a espiga de milho, o pinhão e o quentão.

As bandeirinhas faziam um cordão trançado no alto e algumas também enfeitavam a casa. Música, todos falando juntos e ao mesmo tempo, muitas risadas, muita brincadeira e, claro, muitas peraltices.

De repente uma tia inventa de improvisarmos uma quadrilha, mas antes era necessário que virássemos os caipirinhas. E lá foi ela nos transformar em caipiras, fazendo o que era possível.

Meu tio resolveu registrar alguns momentos da festança e, me lembro como se fosse hoje, dele me ver andando pelo quintal e me chamou, pedindo pra eu fazer uma pose pra foto. Não sei porque eu estava com duas colheres na mão, mas a primeira coisa que me passou pela cabeça foi bater uma na outra, como se houvesse som nos retratos. Fiz uma careta e essa foi a foto mais comentada.

Faz muito tempo. Eu tinha apenas seis anos. Nesse tempo não conhecia a saudade, a tristeza, a angústia. Nesse tempo visitávamos a vovó nos finais de semana e nos reuníamos com os primos pra brincar, pra aprontar e éramos muito felizes.

Hoje, tanto tempo depois, muitos deles já partiram. Os primos casaram, tiveram seus filhos e a vida é bem diferente daquela época, mas temos a felicidade de olhar o álbum de fotos e nos deparar com esses momentos, que ficaram registrados no papel, mas, principalmente no coração.

Como terminou essa festa, não me lembro. Provavelmente adormeci no carro, no caminho de volta pra casa ou ainda, muito antes do fim dela, no sofá, no meio dos primos e dos irmãos, mas certamente num misto de cansaço e alegria por ter tido uma noite tão deliciosamente cheia de infância.

Daquele tempo o que tenho mais saudade é da inocência de criança, da família toda reunida e da casa cheia de gente, mas principalmente dos meus avós que foram uma grande referência na minha vida. Mas onde quer que eles estejam, sei que estão felizes por saberem que moram nos nossos corações e nas nossas tão doces e ternas lembranças.



Este texto faz parte da Blogagem Coletiva do mês de maio do Espaço Aberto


domingo, 2 de maio de 2010

Tarde de Outono

por Flávia Fernandes


Caminho tranqüila pelas ruas movimentadas e observo um céu azul anil com algumas nuvens que parecem de algodão. Elas se misturam desenhando formas e encobrindo o azul celestial, anunciando que em poucas horas teremos chuva.

Uma brisa agradavelmente suave, para um dia quente e as folhas que caem das árvores formam tapetes verdes nas calçadas e nas ruas, mostrando o outono e, com ele a beleza das flores e do verde das folhas.

Avisto um casal de namorados apaixonado, refugiando-se embaixo de uma árvore. Lugar perfeito pra quem está vivendo o amor em sua plenitude. Do alto da árvore, as folhas caem sobre suas cabeças, como que por abençoar a união feliz, na estação do amor.

Num andar térreo de um prédio, apoiado na janela, um cachorrinho observa o movimento das ruas e aproveita a brisa para se refrescar do dia quente.

Na praça, um artista toca “Jesus, Alegria dos Homens” em sua harpa e agradece umas poucas moedas recebidas dos passantes e esta se torna a trilha sonora da tarde linda de um dia comum de outono.

Respiro fundo pra encher os pulmões de ar fresco e ando devagar pra poder usufruir a bela tarde e o cenário lindo que a dança das folhas promove nas ruas, transformando, como que por encanto, as ruas em um tapete de folhas naturais.

A tarde se vai e o vento carrega consigo as folhas, fazendo-as mudar de lugar, mas registrando nos olhos mais atentos a bela paisagem que só a natureza pode nos oferecer.

Lá no horizonte, o céu com cores que se misturam entre o azul e o laranja, com o sol anunciando que, em poucas horas, irá se por para despertar em outro lugar.

Mais um dia que finda, uma noite que chega, uma lua maravilhosa no céu e uma brisa refrescante. Mais um dia de outono que se vai, trazendo a lembrança de um amor especial e mostrando que, nesses dias mais bonitos é que a distância se faz mais presente e o coração pulsa mais forte e chora de saudade, mas se lembra com carinho de quem, mesmo distante, está sempre muito presente.


Este texto faz parte da blogagem coletiva do mês de abril do Espaço Aberto