sexta-feira, 1 de abril de 2011

O mundo dá voltas

"A mão que um dia torturou, hoje se ergue em sinal de respeito!"


A frase que serve de legenda pra foto foi twittada por mim no dia 01/01/2011, quando a tropa passava por revista pela primeira mulher, presidente do Brasil!
Esse foi pra mim, um dos dias mais marcantes e emocionantes da história política do Brasil, ficando atrás só do dia em que um metalúrgico tornou-se presidente, mudando completa e definitivamente a história do nosso país.

Hoje é 1º. de abril e embora seja um dia que todo o mundo resolve fazer piadas, é também um dia marcante e histórico pra nossa nação e não tem nada de engraçado nele.
Há exatos 47 anos, um bando de militares deu um golpe na democracia. Resolveu que era hora de por fim ao mandato de um presidente legítimamente eleito e transformou o país num palco de guerra, levando terror e medo ao povo brasileiro.

Barbarizaram, torturaram e assassinaram jovens, pais de famílias, estudantes, músicos, escritores, atores e até quem nunca havia se envolvido com assuntos políticos, simplesmente porque eles achavam que essas pessoas eram desobedientes e não compactuavam com os absurdos que eles impunham.

Eu nasci em pleno AI-5 e embora não entendesse nada do que ele significava, cresci sabendo que ele era a sentença de morte pra quem não o cumpria.
Criada em família simples e com muitas dificuldades financeiras, entendi desde cedo o que era aquela política que destruía o país e colaborava para o aumento da pobreza e da falta de dignidade das famílias ao ver filhos chorando com fome e pais em desespero pela falta de emprego.

Contava eu com 9 ou 10 anos de idade quando conheci a história de Marcelo Rubens Paiva e fiquei chocada ao saber que aquele menino que andava em cadeira de rodas não tinha perto dele um pai pros momentos em que ele mais precisava, tudo por causa de uns milicos safados. Eu era tão menina, mas já tão indignada com as atrocidades do mundo.

Lembro, como se fosse hoje, o dia em que o Brasil comemorou a queda da ditadura e a anistia de seus presos políticos, assistindo na tv esses famosos e anônimos chegando felizes e emocionados de volta à terra natal.

Alguns anos mais tarde, já no colegial, tive a felicidade de ter professores queridos como Ronaldo - de filosofia, Marise - de física e Wilson - de história e pude conhecer, finalmente, tudo o que aconteceu nesse período absurdo e indígno do Brasil, com aulas maravilhosas desses que eram, não apenas professores, mas também protagonistas daquele período horrível e truculento.

Como eu agradeço a eles por me darem essa oportunidade! Nesse período eu, definitivamente, tornei-me uma pessoa politizada e apreciadora, porém não menos indignada, da política brasileira.

Vivendo aquele momento no colegial, aparece um presidente safado e nos dá a oportunidade de reviver o que alguns jovens haviam feito muitos anos antes e tive a felicidade de entrar pra história política do país, pintando a cara de verde e amarelo e subindo em carro de som, percorrendo a Av. Paulista e pedindo a saída de quem não era digno de comandar o país.

Mais alguns anos e pude, finalmente, ver meu voto ser sacramentado quando da eleição do Lula.

Quando a Dilma foi chamada pra ser ministra, conheci sua história como uma daquelas que viveu sob os domínios do medo, sendo presa e torturada por esses bandidos de farda.
Foi diante da história dessa mulher que tive ainda mais vontade de vê-la como sucessora do metalúrgico que também havia lutado pelo país e, assim como ela, esteve nas mãos do Dops.

Hoje, ao relembrar desses 21 anos de vergonha, pelos quais o Brasil passou e ver a mulher que um dia foi torturada e humilhada pelos militares, sendo recebida por eles em sinal de respeito, me dou conta do quanto o mundo dá voltas e como é lindo ver que, aqueles que um dia estiveram por cima, hoje reverenciam aqueles que estavam por baixo e foram humilhados e torturados por eles.

Só lamento que muitos ainda acham que aquele período foi bom. Os que pensam assim, estou certa de que não conhecem nada da história e do quanto as pessoas sofreram. Eram agressões físicas e morais que eu não desejo a um inimigo e não me conformo com gente que aprova tudo aquilo.

Tenho orgulho de ver minha presidente, que foi chamada de terrorista, comandar o Brasil. Aliás, esse cargo deveria ser ocupado somente por quem ama esse país e não lhe dá as costas, ou pretende vendê-lo.

Pra quem acha que aquele foi um período bom, sugiro a leitura dos livros que tive a oportunidade de ler, dos filmes que vi e de uma conversa sobre tudo o que aprendi na vida estudantil, sobre um período que não nos dá nenhum orgulho, mas vergonha!

Infelizmente o professor Wilson ensina história lá do "outro lado". O professor Ronaldo eu nunca mais tive contato, mas a professora Marise, pra minha alegria, é uma grande e querida amiga!

Se cabe neste texto, um pedido à presidente Dilma, com todo respeito, pediria a ela a abertura dos arquivos da ditadura e, assim como está fazendo a nossa vizinha Argentina, punição àqueles que cometeram atrocidades contra pessoas que só queriam um Brasil justo e democrático.

Acredito muito que essa atitude confortará corações como os das famílias de Rubens Paiva, Zuzu e Stuart Angel, Carlos Marighella e tantos outros que nunca mais souberam do paradeiro de seus entes queridos e nem jamais puderam enterrar seus corpos.

O livro dessa história só poderá ser fechado e colocado na estante da memória, pegando pó e sendo devorado por traças, quando os fantasmas dela forem todos espantados, mas pra isso, é preciso que os responsáveis sejam punidos. É o único jeito desses espíritos, descansarem em paz, pelo bem da memória do Brasil!