sexta-feira, 12 de junho de 2009

Quando o amor bate à porta

por Flávia Fernandes


Dona Joana é uma senhora que, de tão simpática, todo mundo adora.
Sempre sorridente e bem disposta, não economiza gentilezas, um afago e, com uma voz tranqüila e suave, tem sempre uma palavra carinhosa pra todos.
Encontrá-la quando estamos naquele “mau dia” é quase um alívio instantâneo, tamanha paz que ela nos transmite.

No alto dos seus 74 anos, professora aposentada e contadora de histórias, mora sozinha num apartamento simples, mas muito aconchegante e diz que não se importa em morar só, que chegou na velhice e não quer atrapalhar ninguém. Mesmo com a família discordando disso, ela diz que prefere não dar trabalho.

No apartamento em frente, mora Luisa. Uma simpática jovem de 27 anos, professora e apaixonada por pessoas idosas.
Luisa também mora sozinha e, diferente de dona Joana, sua família mora distante, restando à moça, a companhia dos amigos e vizinhos.

Logo ao mudar-se pro condomínio, Luisa conheceu a simpática dona Joana. A afinidade foi instantânea e, ambas ficaram muito preocupadas com o fato de a outra viver sozinha.

Moça de boa índole e zelosa com todos à sua volta, Luisa está sempre atenta às necessidades de dona Joana.

Há cinco anos dona Joana foi diagnosticada com um câncer de mama. Um tanto assustador, mas ela não se intimidou e foi enfrentar tudo com muito otimismo e vontade de vencer.

Luisa apoiou até onde foi possível, levando amparo, proteção, carinho e cuidando pra que nada faltasse a essa vizinha que, já se tornara sua avó de estimação.

Após a cirurgia, dona Joana hospedou-se na casa de uma das filhas, pra receber os primeiros cuidados tão importantes e necessários, porém, quando da retirada dos pontos, ela preferiu voltar pra sua casa.

Logo vieram as sessões de quimioterapia e dona Joana, novamente não queria incomodar ninguém, no entanto, Luisa não se fez de rogada e, por ter seus horários bastante flexíveis, tratou logo de organizar-se, a fim de acompanhar dona Joana em todas as sessões de quimioterapia, radioterapia e também nos exames de acompanhamento e consultas de rotina.

Dona Joana dizia que ela era uma moça valiosa demais, uma verdadeira bênção de Deus e, que sorte teria seu futuro marido, mas Luisa não pensava nisso, pelo menos naquela ocasião. Ela estava estudando, se aperfeiçoando e conquistando seu espaço profissional, coisa da qual ela não abria mão.

Mesmo assim, dona Joana dizia que ela precisava muito preocupar-se com esse assunto e, entre uma sala de espera e outra, contava-lhe sobre seus lindos netos, muito educados, bons moços e, melhor ainda, bons pretendentes!

Luisa ouvia a tudo e achava graça, enquanto dona Joana fazia a boa propaganda dos rapazes e aguardava o atendimento. E assim foi durante todo o tratamento.

Por volta de seis meses após o fim do tratamento, a vida já ia se ajeitando novamente e Luisa recebe um telegrama comunicando que ela havia sido selecionada para lecionar em um dos melhores colégios daquela região, depois de um processo lento e estressante.

Como dona Joana sempre lhe deu muito incentivo e torceu muito, Luisa foi levar a boa notícia à vizinha que ficou muito feliz e organizou uma pequena reunião entre os amigos da jovem e chamou seus netos, a fim de comemorar esse momento importante de sua vida, porém, pra tristeza da avó, os rapazes não compareceram.

Dois meses depois, num sábado pela manhã, Luisa é surpreendida com alguém tocando a campainha e logo pensou ser dona Joana, afinal não houve um anúncio da portaria e ela também não estava à espera de ninguém.

Ao abrir a porta, se surpreende ao ver um jovem bonito e sorridente que ao constatar que se tratava de Luisa, apresentou-se como Ricardo, neto mais velho de dona Joana.

Meio confusa e sem entender o motivo pelo qual Ricardo estava à sua porta, perguntou se algo havia acontecido com dona Joana e este lhe respondeu que não, que tudo estava bem com sua avó.

Depois de respirar aliviada, Luisa convida o jovem pra entrar e este, de forma bastante respeitosa agradece a moça. Um tanto sem jeito, ele a observa e, embora tímido diz à ela o motivo pelo qual tomou a atitude de procurá-la.

Reproduzo abaixo, exatamente as palavras que ele disse à Luisa naquela manhã:

- Luisa, vim te procurar hoje porque, na verdade, vim aqui pra conhecer a mulher da minha vida! Mesmo sem te conhecer, estou apaixonado por você, de tanto que minha avó já falou de ti!

Ricardo e Luisa estão casados há pouco mais de dois anos, moram no mesmo apartamento, de frente ao de dona Joana e ela, feliz por ser a grande responsável por esse amor tão bonito.


Esta história é real, preservados apenas os nomes dos protagonistas.
Quantas, semelhantes a essas não devem existir por aí, não é mesmo?
Quantos de nós não gostaríamos de viver um amor nessa plenitude, onde as aparências são menos importantes e que os sentimentos são valorizados?

Hoje, dia dos namorados, desejo que cada casal possa se unir ainda mais e o amor seja a base da felicidade, do bem viver e da união.

E viva o amor, na sua mais bela forma de ser!

Feliz dia dos namorados!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A vida é tão rara

por Flávia Fernandes


Segunda-feira pela manhã. Chego ao trabalho e, antes de começar minhas atividades, deparo-me com uma notícia horrível na internet: Avião que seguia do Rio de Janeiro com destino a Paris, desaparece dos radares. Havia 228 pessoas a bordo.

Confesso que não é a melhor notícia pra se começar a semana, mas também não dá pra ignorar tal acontecimento.

A primeira coisa que me passa a cabeça é um otimismo, ainda que falso, desejando que a qualquer momento tenha a notícia de que a aeronave pousou com segurança, que foi encontrada e que todos estão bem, mas as horas passam e a notícia não chega.

Em seguida, vem o pesar, o medo, a sensação de assistir a mais uma tragédia. Não sei quem estava a bordo, não são parentes, amigos, conhecidos (pelo menos que eu saiba), mas me dói igualmente. Foram 228 vidas, que sofreram juntas e que, algumas horas antes estavam felizes, cheios de planos.

Pessoas que estavam saindo de férias, pra curtir Paris. Um casal que seguia em lua-de-mel. Uma mulher que vivia na Alemanha, mas estava no Brasil de férias e nessa data, retornava pra casa. Empresários, funcionários, representantes de empresas, políticos, crianças, idosos, pilotos, comissários de bordo. Cada um com seus dilemas, com suas dores, seus problemas e tantos planos pra dali algumas horas, pro dia seguinte, pro próximo mês, pra viagem de volta.

A viagem de volta!
Viagem essa que teve um destino, mas foi interrompido e o destino agora é outro!

É triste e chocante ver notícias como essas e nessas horas, a gente lembra a fragilidade que é viver.
Como diz o ditado “pra morrer, basta estar vivo” e constatamos o quanto real e verdadeiro é isso. O quanto a vida é tão rara, como diz meu querido Lenine.

Ainda divagando sobre aqueles que estavam no avião, penso em quantas coisas eles podem ter deixado de fazer, postergando planos, projetos e tantas outras coisas em detrimento do dia-a-dia, sem sequer imaginar que poderiam fazer uma viagem sem volta.

As mulheres que abriram mão daquela deliciosa sobremesa depois da refeição pra não sair da dieta. Os homens que deixaram as férias para outra ocasião porque precisavam trabalhar mais, no intuito de fechar negócios importantes. Pais e mães que, pensando no futuro da família, mantiveram-se ausentes da companhia dos filhos, perdendo os melhores anos de suas vidas, enfiados no trabalho achando que isso é segurança e bem-estar.
Quantos ali haviam deixado de dizer uma palavra de amor, de carinho, um gesto de ternura na certeza de que haveria muito tempo pra que isso fosse feito.

O fim da viagem teve outro destino e muita coisa deixou de ser feita ou de ser dita. A vida não para, a vida é tão rara.

E se houvesse uma segunda chance? E se eles pudessem voltar no tempo e fazer coisas que haviam sido adiadas? E se fosse possível retroceder?
E se... nada mais pode ser feito, só nos resta pensar que poderíamos ser um de nós naquele vôo e agradecer a oportunidade de rever nossas vidas, as coisas que postergamos e nos dar uma nova chance.

Já que a vida não para, que pelo menos a gente possa parar um pouco. Largar os compromissos e se permitir estar entre os familiares, os amigos, os amores.
Já que a vida é tão rara, talvez seja esse o momento de repensarmos os rumos que traçamos, rever nossas rotas e se encaixar na marcha mais lenta que podemos dar nos traçados de nossas vidas.

Quanto àqueles que desencarnaram juntos no vôo, que eles tenham compreensão do que aconteceu, aceitação pra o que não é possível mudar e enxerguem as novas oportunidades.
Aos familiares, que sejam afagados por Deus pela perda dos entes queridos e à todos nós, que fique o pesar, mas acima de tudo, o grande aprendizado de que, de verdade, a vida é tão rara!

Meus sinceros sentimentos pela perda desses irmãos em Deus, que partiram no vôo com destino a Paris, mas que precisaram desembarcar no meio do caminho, pra uma viagem bem mais bonita, de encontro com Deus e que, tenho certeza, foram recebidas pelas Mãos do Pai Maior.