segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um feriado pra ficar na memória

por Flávia Fernandes


O dia amanheceu nublado, cinza, tristonho, tal qual estava meu coração.

Rio de Janeiro, terça-feira, 21 de abril de 2009. Feriado de Tiradentes e eu estava me despedindo do feriadão, na cidade maravilhosa.

Cheguei na sexta a noite, com um céu estrelado e uma lua fantástica iluminando tudo e as luzes artificiais, clareando a beleza dessa terra que é linda.

Lá do alto, o Cristo Redentor com seus braços abertos, todo iluminado e a cabeça um pouco inclinada pra baixo, me dava as boas-vindas, tendo à sua volta o brilho do luar e das estrelas no céu.

No solo uma amiga à minha espera. Recebeu-me com um caloroso e emocionante abraço, daqueles que trocamos quando temos a oportunidade de matar as saudades e que brotam lágrimas nos olhos, de felicidade, de emoção, de um carinho imenso.

Com uma noite quente e uma brisa deliciosa, respirei profundamente, deixando que todo o ar dos pulmões circulasse, recebendo aquele cheiro de mato, misturado com o do mar, cheio de natureza e a alegria por estar novamente num lugar que me identifico como se fosse filha daquela terra. Estava feliz! Era o Rio, me recebendo de novo e saudando a minha chegada.

Sentamo-nos em um bar pra beber um chopp e colocar as conversas em dia. Deus, havia tanto por dizer que era capaz de virarmos a madrugada ali, naquele ambiente propício a um bom bate-papo, falando e falando e falando, mas era só o primeiro dia.

Sábado amanheceu com um céu que mais parecia uma pintura, mas de fato era uma pintura, desenhada pelas mãos do Criador. Que espetáculo! Um sol brilhante e quente, que iluminava a cidade e colocava sorrisos nos lábios de todos, como mágica, me dando a certeza de que eu realmente precisava estar ali.

Fomos à praia. Por todos os cantos, eu avistava o Redentor, observando a tudo e a todos e aquilo enchia meu coração de ainda mais paz. Um cenário lindo e perfeito, daqueles que inspira. Um mar verdinho, límpido, os peixes passeando entre os banhistas e os surfistas driblando as ondas, com seu jogo de cintura perfeito. O cheiro da maresia, o sol e à minha frente os Dois Irmãos, sempre unidos. Alguns aventureiros sobrevoavam aquelas duas montanhas quase gêmeas, desligando-se totalmente do mundo, com uma sensação invejável de liberdade, como se aquelas asas fossem suas e não artificiais.

O dia prometia ainda mais alegrias. Depois da praia, era hora de encontrar os amigos. Cumprir os compromissos que haviam sido agendados, propósito disso tudo. Um passeio pelo centro do Rio de Janeiro que é a história vivida em cada quarteirão e a sensação de estar em casa, com o coração em paz e feliz pela nova oportunidade.

Um encontro memorável que durou horas, entrou na madrugada. Muita alegria, muita festa, assuntos calorosos e a boemia fechando a noite, na bela Lapa, local de onde muitos artistas saíram pra ganhar o mundo da fama. O sábado se foi, mas ficará guardado pra sempre no coração e nas fotos que registraram tal momento.

Domingo pulei cedo da cama, pois queria aproveitar um pouco mais das belezas e o sol me chamava pra curtir esse dia tão família. Fui conhecer a Lagoa Rodrigo de Freitas. Fiquei embasbacada com tamanha beleza. Jamais imaginei que fosse tão bela, tão formosa. E que paz ela transmite! Eu poderia ficar ali, diante daquela beleza por horas, sem pensar em absolutamente nada e estaria feliz.

De lá, fui encontrar uma amiga muito querida e amada, que não via desde o ano passado, mas que sempre é uma grande alegria encontrá-la. Fomos passar o resto do dia em Niterói. Na ida, observava ao fundo uma cidade iluminada pelo astro rei, que sorria feliz para aqueles que foram ao seu encontro.

Mas beleza mesmo, tive a felicidade de ver na volta. Da ponta da ponte, observo ao fundo, próximo do Pão de Açúcar, um céu com cores jamais reproduzidas por qualquer pintor, num dégradé extraordinário que jamais me sairá da cabeça. Era o sol, se despedindo do domingo, pra nascer em outros continentes bem distantes do nosso, mas deixando registrada a sua marca.

Meus amigos disseram que eu realmente estava recebendo um presente divino, pois tantos anos de Rio de Janeiro, eles nunca haviam visto uma beleza tão extraordinária. Quanta emoção! Os olhos marejaram novamente e eu agradeci outra vez a beleza, a oportunidade e meus olhos, por poderem ver uma cena tão rara e perfeita da criação.

Domingo foi dia de futebol. Corinthians jogando em São Paulo e Flamengo jogando no Rio. Meus dois times prediletos estavam em campo disputando partidas importantes. Meu coração pulava a cada lance. Em São Paulo, meu Corinthians ganhou, mas eu estava distante e sem muita emoção pra festejar, embora muito feliz. No Rio de Janeiro, o Flamengo ganhou também, mas o mais impressionante foi sentir a cidade vibrar no momento do gol. O Rio balança, o Rio treme, o Rio grita “gol” em uníssono. Impressionante, emocionante.

Encerrei o dia à beira da Lagoa, ouvindo chorinho, bebericando chopp e apreciando petiscos. Não havia em meus pensamentos qualquer preocupação, qualquer dor. Não havia saudade, não havia medo, nem perspectivas. Somente a paz que meu espírito estava envolvido naquele momento e experimentando uma sensação de liberdade, altamente necessária pra uma sagitariana. A Lagoa virou, definitivamente, meu refúgio de paz. Lá se foi o domingo e eu, adormeci feliz.

Segunda-feira novamente madruguei pra aproveitar cada instante do feriado que ia se aproximando do fim. Escolhi meu refúgio predileto pra iniciar o cenário perfeito de um dia que certamente ficará nos escaninhos da minha memória.

Fui correr em volta da Lagoa. 8 km de pura beleza e mais uma vez, ganho de presente uma visão maravilhosa: Lá no alto, o Redentor com os braços abertos e o sol bem pertinho, fazia faixas de luz por entre os braços do Mestre e no chão, nos galhos de uma árvore bem verde, uma arara azul exibia-se linda para os caminhantes. Quanto mais as pessoas paravam pra observá-la, mais graça ela fazia. Cantava, andava de um lado pro outro do galho e a cada foto, uma nova pose de uma ave que parecia entender tudo o que se passava. Nas filmagens, ela cantava, ela se exibia e mostrava que estava ali pra aparecer mesmo.

Sentei-me embaixo de uma árvore, quase de frente pro Cristo e, com os olhos pro alto, chorei agradecendo as bênçãos. Foram muitas em minha vida!

Naquele lugar maravilhoso, acho que foi onde mais me senti perto de Deus. A natureza me presenteava a cada instante, com imagens, sons de pássaros, barulho das águas. Que paz indescritível eu senti e como eu gostaria de poder dividir isso com todas as pessoas. Os olhos ainda marejam com as cenas que me voltam à memória.

Depois de muito agradecer, fui descarregar de vez as energias no mar. Aquela areia branquinha, refletindo a luz de um sol que esquentava a 33 graus. O mar ainda mais limpo e calmo. As ondas passeando entre as pernas dos banhistas. As gaivotas com seus vôos rasantes em busca do alimento e eu ali, como expectadora de um espetáculo inebriante.

O falatório dos turistas sequer atrapalhou meus pensamentos. Por alguns momentos me senti sozinha naquele cenário iluminado, pois não ouvia nada, não via ninguém. Meus pensamentos voavam longe e meus olhos percorriam hora o mar, hora as montanhas, hora os pássaros e embora eu parecesse solitária, estava em paz, com Deus no coração e com meu espírito livre, distanciando-se e me mostrando que não há limites para a felicidade, para o amor, para a liberdade.

Houve trilha sonora. Em minha mente, cada cena merecia uma música. Na vitrola do meu coração tocou Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Marina Lima, Cazuza, Tim Maia, Gonzaguinha, Elis Regina, Toquinho, Lenine (“Se escreveu, remeta”), João Bosco e muitos outros que cantaram as belezas e as mazelas da vida com uma arte maravilhosa que ficará pra posteridade e serão cantadas em muitas outras ocasiões, mas que me remeterão pra esse fim de semana, pra sempre.

Horas depois, retorno pra um novo reencontro e novamente houve alegria, emoção e um bate-papo que durou muitas, muitas horas e incontáveis palavras jogadas ao vento. Emoções, sentimentos, paz, conselhos e a alegria encerraram com muitos planos a segunda-feira que será inesquecível.

Terça-feira era o dia de voltar pra casa, pra realidade e deveria ser perfeita, pra fechar com chave de ouro, mas alguma coisa aconteceu: o dia chegou cinza, nublado, com ares de chuva e frio.

O Redentor estava escondido entre as frias nuvens que encobriam a cidade. Na rua as pessoas usavam agasalhos e corriam apressadas pra fugir da chuva que se aproximava. Não houve praia. Iniciamos o dia de outro jeito, mudando os planos. Primeiro a leitura do tarô, mostrando que tudo anda bem e que só preciso arrefecer nos momentos de muita euforia, manter os pés no chão e a vigilância constante; trabalhar a espiritualidade, pois chegou o momento disso.

Em seguida fomos caminhar no Jardim Botânico. Fui coroada com uma chuva fina que veio pra abençoar a caminhada entre as árvores e exalar o cheiro do verde, da mata atlântica que está lá, preservada. Alí, definitivamente encerrei meu fim de semana, sentindo-me em profunda paz de espírito, com o coração feliz e a alma cheia de uma leveza impossível de ser descrita. Senti-me em casa, filha daquele solo sagrado.

Envolvida entre as minhas maiores paixões: arte, história, política, amigos, natureza e paz, foi essa a história do fim de semana inesquecível.

Despedi-me, com o coração num misto de felicidade, paz e tristeza por estar indo embora. Embarquei e nesse instante, uma chuva forte caiu. Era o Rio de Janeiro, chorando a minha despedida. Do lado de dentro da janela, as minhas lágrimas caíam junto, agradecendo as bênçãos, mas juntando-se às águas que vinham do céu.

Rio, eu choro com você e te agradeço por me receber sempre, com tamanha alegria.


Flávia
22/04/2009

14 comentários:

Juliana Freitas disse...

E trate de voltar logo, que o Cristo e nós estaremos te esperando sempre com os braços abertos! E tanto faz, ou com chuva pra lavar a alma, ou com sol pra esquentar o coração. Tá valendo tudo!!!

Ana Cristina Nadruz disse...

Mi casa , su casa!!!!!
Minha xaróscopa predileta!

Carla Almeida disse...

Linda, achei o texto maravilhoso. Gostaria que todos os governantes da cidade pensassem o RJ como você. Essa maravilha deliciosa e linda. Nossa cidade seria melhor ainda. Muitos beijos.

Flávia disse...

Ju, com certeza voltarei muitas vezes e não importa o clima, importam as paixões que me fazem voltar sempre!
Beijos!!

Flávia disse...

Cris, minha amiga e xaróscopa!!
Obrigada pela acolhida, seja em casa, seja no coração.
A recíproca também é verdadeira.
Beijos!!

Flávia disse...

Ca, tantas coisas poderiam ser diferentes se olhadas sob nossa ótica, né?
Seguimos com fé, um dia será diferente!
Muitos beijos pra vc tb!!

Daniel Tapajós disse...

me deu foi uma vontade enorme de conhecer o rio...
tb com td isso aí!!!!

Fla... ate aqui vou te perturbar!!!

adoro-te!

Flávia disse...

Dan, vc é um fofo! Adorei a visita surpresa, querido!
Quando tiver a oportunidade, vá ao Rio sim, é lindo!
Se quiser, te passo um roteiro de visitas necessárias!!!
Beijo lindo, tb te adoro.

Vivi Groba disse...

Me senti no RJ!!!
Ótimo texto.
Beijão

Flávia disse...

Vivi, que gostoso saber disso!
Aquele lugar é mágico. Vale muito à pena.
Sempre corro pra lá, quando preciso sair do stress.
Corro pra encontrar o Cristo de braços abertos, corro pro mar, pra natureza e pros amigos. Aconselho!!

Beijos

Chris Ribeiro disse...

Amiga, terminei de ler aos prantos...
Seria tão bom se as pessoas enxergassem o Rio com teus olhos.
Nossa cidade é tão injustiçada...
Quero na boca do povo, esse Rio que se transforma em poesia ao entrar pelos olhos, o que comove nas pequenas coisas e o teu post traduziu isso.
Um cala a boca nos sensacionalistas de plantão.
Belo e majestoso texto amiga.
Parabéns!!

Denise disse...

Nooooossaaaaaa.... Flavinhaa... lindooo o seu texto.. tenho qua admitir que eu tinha um certo receio em relação a cidade Maravilhosa, mais agora .. depois desse espetáculo... não fica dúvidas... e sim... só o desejo de um dia poder passar pelos mesmos caminhos que você passou....

Linda... Perfeita... e Extraordinária .. a sua visão... em relação ao Rio, como citou a sua amiga... seria excelente se todos pudessem ver .. como os seus olhos viram.. o Rio de Janeiro...

Beijúuuu.. florzinhaaa

Flávia disse...

Cris, quantas coisas não são injustiçadas por conta de interesses diversos?
Mas confio que isso vai mudar, amiga.
Chico, Vinícius, Tom Jobim e tantos outros transformaram o Rio na poesia que ele é, de forma a nos fazer sentir orgulho de representar tão bem nosso país.
Acredito que estejam faltando mais deles, pra continuar a poetizar a maravilhosa!
E danem-se os sensacionalistas... eles são neo-perdedores! hehehe
Beijos

Flávia disse...

Denise, tudo é uma questão de não se deixar influenciar pelo que vemos no noticiário.
Se fosse assim, SP estaria falida, pois os empresários não iriam querer suas empresas por aqui. Aliás, tanto se vê dos problemas sociais daqui, no entanto estamos vivendo, não é?
Quando puder, vá sim conhecer o Rio e tenho certeza de que irá voltar com a certeza de que nada do que eu disse, é exagero. ;)
Beijos e valeu pela visita!