domingo, 24 de maio de 2009

A TPM : O poder dos hormônios na vida de uma mulher

por Flávia Fernandes



É inacreditável o poder que a TPM tem na vida da gente. Tornamos-nos verdadeiros monstros de um dia pro outro.
Vamos dormir bem, suaves, meiguinhas e acordamos uma verdadeira megera!!
Pior que é tão imperceptível que sequer conseguimos controlar essa coisa.

Dia desses estava nessa fase horrível. Não consegui contabilizar ainda os danos causados. Além da cara esburacada por um monte de espinhas, ainda fiquei inchada e chorona.

O primeiro sintoma foi a necessidade repentina de chocolate. Ai meu Deus, porque é que essa é a primeira coisa que pensamos em comer???? Não podíamos pensar em comer um pé de alface, hein?
Aí vem o inchaço na barriga e aquela barrinha inocente torna-se o nosso pior inimigo. O primeiro pensamento que vem é: maldita barra de chocolate: engordei!

O segundo sintoma: o choro!
Comercial de margarina a gente chora. Comédia romântica com final feliz e a gente tem o poder de abrir o berreiro como se estivéssemos no funeral de alguém muito querido.
Inacreditável a facilidade de chorar.

O terceiro – e mais perigoso – sintoma: a irritação!
Dessa vez acho que foi das piores (bem, sempre acho que essa vez foi a pior de todas!).
Estava no trânsito, parada, aguardando o sinal abrir. Estava na primeira fila e a faixa à minha direita estava livre, porque logo depois do sinal, haviam carros estacionados.
Só que um infeliz resolveu cortar todo mundo da minha fila e ir parar do meu lado, mesmo sabendo que logo em seguida teria de pedir passagem.
Ele resolveu ser mais esperto que eu, avançando mais rápido pra passar na minha frente.
O que o infeliz não tinha idéia é que eu estava na TPM! Coitado!!!

Meu carro é 1.8 e o dele, bem, o dele era uma Kombi!
A primeira coisa que pensei foi na famosa frase: perdeu, babaca!
O arranque do meu carro é a alegria da minha vida e emparelhei com o otário que continuava acelerando a kombosa à fim de me ultrapassar.
Quando ele viu que não tinha mais espaço, jogou a bicheira, digo, a Kombi pra esquerda, mas eu fiz uma das coisas que mais detesto no trânsito: meti a mão na buzina e ele teve de frear e voltar pra faixa dele. Segui em frente e feliz, quase festejando uma vitória na F1.
Ele seguiu atrás de mim e como eu sabia que ia entrar à direita, acelerei a ponto de ganhar boa distância dele, no intuito de não continuar com aquela atitude bem infantil e já antevendo que ele não estava a fim de ficar pra trás, principalmente atrás de uma pirralha como eu.
Bem, distância garantida e seta devidamente ligada, iniciei a curva e, qual não foi a minha surpresa, o babaca resolve buzinar na minha orelha.
Ah, pensam que fiquei pra trás? Óbvio que não, afinal, eu estava na TPM!
O vidro estava aberto e não tive dúvidas: coloquei a mão pra fora e, em destaque, o dedo do meio bem levantado, pra ele ver que mulher que é mulher não leva desaforos pra casa, principalmente se ela estiver na TPM.
Segui feliz da vida, dessa vez com a certeza de que havia levado a taça na F1. Com direito à musiquinha: tan-tan-tan, tan-tan-tan...

Bem, esse foi um dos milhares de episódios que ocorreram comigo em apenas 5 dias. Houveram outros, bem piores até, mas como isso tudo é muito feio, vou parar por aqui, pois voltando ao normal já, com os hormônios mais regulados, dou risada do que acontece e, mesmo assim, fico assustada com o poder que eles exercem sobre a gente.

Há de surgir uma fórmula mágica que vai ajudar as mulheres a pararem de sofrer com a TPM e, pra felicidade dos rapazes, continuaremos sendo meiguinhas em, pelo menos, 25 dias do mês, já que os outros, são inevitáveis!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Mãe

por Flávia Fernandes


Ela casou-se muito jovem.
Cheia de vida, cheia de planos e com um futuro enorme à sua espera.

Menos de um ano depois, nascia sua primeira filha.
Marinheira de primeira viagem que era, enfrentou as dificuldades que começaram a surgir. Largou o trabalho para dedicar-se àquele ser tão dependente e que necessitava de sua atenção. Marido ausente, família distante, grana curta e uma responsabilidade enorme pra alguém que acabara de completar a maioridade.

Dois anos depois, com a situação ainda mais grave e uma quase separação, deu a luz à sua segunda filha.

Nascida de oito meses, pequenina e necessitando de cuidados redobrados naqueles primeiros dias de vida, teve a mãezinha zelosa, cuidando de tudo e dividindo a atenção com a irmã mais velha que buscava os olhos e cuidados redobrados de sua progenitora.

As dificuldades aumentavam, mas ela conseguia driblar os problemas, fechar a porta pros transtornos e fazer verdadeiros milagres pra enfrentar os percalços sem esmorecer.
Mães são obras divinas mesmo!

Dois anos depois, numa situação um pouco mais confortável e o casamento estável, veio sua terceira filha. Quanta alegria, depois de ter vencido tantos obstáculos. Família unida e feliz, filhas saudáveis e amadas; e a mãe orgulhosa de sua bela prole, agradecia à Deus pela bênção e oportunidade que tivera de ser mãe!
Filhos são presentes que Deus manda às mães!

Quatro anos mais tarde, para surpresa de todos, veio o garoto, o filho homem que a família tanto esperava, para dar continuidade ao nome, coisas de uma sociedade machista e que à época ainda influenciava um bocado.

A situação estava complicada. Não havia dinheiro pra pagar as contas, eram quatro filhos pequenos pra sustentar e um marido que se recusava a amadurecer.
Faltou o que comer, mas lá estava ela, meio mãe, meio alquimista, transformando o pouco que tinha em alimento pros filhos, não se importando em faltar a si própria.
À mãe, Deus atende seus pedidos em prioridade!

Três meses depois, seu pai faleceu, vitima de um câncer que o fez sofrer em silêncio. Vieram as mudanças de residência, de escola, de trabalho.
Apareceram novos problemas, os filhos cresciam rapidamente e a cada dia, tornava-se mais difícil viver sem esmorecer.

Dois anos mais tarde, sua mãe adoece e rapidamente também veio a falecer.
Sete dias depois, horas antes da missa da mãe, o filho sofreu um acidente.
O universo parecia conspirar contra. Todos os problemas rondavam a família e ela, tendo de ser o alicerce de tudo.

O marido estava sem emprego e a família foi morar de favor. Tempos duros e difíceis, mas ela encarava como um leão o que aparecia pela frente e manteve o equilíbrio da família, até quando faltou para si própria.

Nada disso foi suficiente pra manter o casamento e veio também a separação.
Agora estava ela sozinha, com quatro filhos pequenos, dependentes e necessitando do básico para sobreviver.

Novamente faltou o que comer e foi preciso compreensão, equilíbrio e muita fé, além da ajuda dos mais próximos para vencer mais essa batalha da vida, que parecia não ter fim e batia pesado cada dia mais.

A mãe pedia a Deus por uma luz pra entender e enfrentar todas as dificuldades, mas as respostas não vinham e, enquanto isso era preciso um esforço imenso pra conseguir alimentar os filhos pequenos.

A filha mais velha precisou ir trabalhar cedo, antes de concluir os estudos e a mãe, trabalhando de sol a sol pra garantir o sustento da família. Assim também foi com os outros filhos, conforme iam chegando na idade de poder trabalhar fora e assim, colaborar com as despesas de casa.

Muitos anos depois a situação era outra completamente diferente. Filhos criados, tomando as rédeas de suas vidas e a mãe feliz com a missão cumprida.

Essa poderia ser mais uma história comum, de uma mulher batalhadora que enfrentou muitas coisas na vida e que venceu as dificuldades com bravura, mas é muito mais que isso: essa é a verdadeira história da minha mãe.

Guerreira, valente e determinada, não mediu esforços pra batalhar pela felicidade dos filhos. Sofreu por eles, chorou e venceu cada dificuldade, tornando-se cada dia, uma pessoa melhor e vencedora.

Não mediu esforços pra nos ensinar sobre amor, respeito, virtudes, educação e união.
Matava um leão por dia pra manter os filhos no caminho do bem e mesmo nos momentos em que tudo poderia despencar, ela encontrava mais força pra vencer novamente.

Ela é o exemplo mais puro do amor incondicional que a mãe sente pelo filho.
Ela é luz, é amor, é guerreira, é exemplo. É força, é fé, é equilíbrio.
Acima de tudo, é a minha mãe, a pessoa que mais amo e admiro na minha vida.

Mãe, essa é a minha mais singela homenagem a você, que é a melhor pessoa que conheço na vida e me orgulho muito de chamá-la de Minha Mãe!

Feliz todo dia das mães. Obrigada pela oportunidade de me dar a vida várias vezes!
Que Deus continue te abençoando e te segurando pelas Mãos, como sempre fez!

Ah, saúde, paz, amor e bênçãos à todas as mães do planeta!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um feriado pra ficar na memória

por Flávia Fernandes


O dia amanheceu nublado, cinza, tristonho, tal qual estava meu coração.

Rio de Janeiro, terça-feira, 21 de abril de 2009. Feriado de Tiradentes e eu estava me despedindo do feriadão, na cidade maravilhosa.

Cheguei na sexta a noite, com um céu estrelado e uma lua fantástica iluminando tudo e as luzes artificiais, clareando a beleza dessa terra que é linda.

Lá do alto, o Cristo Redentor com seus braços abertos, todo iluminado e a cabeça um pouco inclinada pra baixo, me dava as boas-vindas, tendo à sua volta o brilho do luar e das estrelas no céu.

No solo uma amiga à minha espera. Recebeu-me com um caloroso e emocionante abraço, daqueles que trocamos quando temos a oportunidade de matar as saudades e que brotam lágrimas nos olhos, de felicidade, de emoção, de um carinho imenso.

Com uma noite quente e uma brisa deliciosa, respirei profundamente, deixando que todo o ar dos pulmões circulasse, recebendo aquele cheiro de mato, misturado com o do mar, cheio de natureza e a alegria por estar novamente num lugar que me identifico como se fosse filha daquela terra. Estava feliz! Era o Rio, me recebendo de novo e saudando a minha chegada.

Sentamo-nos em um bar pra beber um chopp e colocar as conversas em dia. Deus, havia tanto por dizer que era capaz de virarmos a madrugada ali, naquele ambiente propício a um bom bate-papo, falando e falando e falando, mas era só o primeiro dia.

Sábado amanheceu com um céu que mais parecia uma pintura, mas de fato era uma pintura, desenhada pelas mãos do Criador. Que espetáculo! Um sol brilhante e quente, que iluminava a cidade e colocava sorrisos nos lábios de todos, como mágica, me dando a certeza de que eu realmente precisava estar ali.

Fomos à praia. Por todos os cantos, eu avistava o Redentor, observando a tudo e a todos e aquilo enchia meu coração de ainda mais paz. Um cenário lindo e perfeito, daqueles que inspira. Um mar verdinho, límpido, os peixes passeando entre os banhistas e os surfistas driblando as ondas, com seu jogo de cintura perfeito. O cheiro da maresia, o sol e à minha frente os Dois Irmãos, sempre unidos. Alguns aventureiros sobrevoavam aquelas duas montanhas quase gêmeas, desligando-se totalmente do mundo, com uma sensação invejável de liberdade, como se aquelas asas fossem suas e não artificiais.

O dia prometia ainda mais alegrias. Depois da praia, era hora de encontrar os amigos. Cumprir os compromissos que haviam sido agendados, propósito disso tudo. Um passeio pelo centro do Rio de Janeiro que é a história vivida em cada quarteirão e a sensação de estar em casa, com o coração em paz e feliz pela nova oportunidade.

Um encontro memorável que durou horas, entrou na madrugada. Muita alegria, muita festa, assuntos calorosos e a boemia fechando a noite, na bela Lapa, local de onde muitos artistas saíram pra ganhar o mundo da fama. O sábado se foi, mas ficará guardado pra sempre no coração e nas fotos que registraram tal momento.

Domingo pulei cedo da cama, pois queria aproveitar um pouco mais das belezas e o sol me chamava pra curtir esse dia tão família. Fui conhecer a Lagoa Rodrigo de Freitas. Fiquei embasbacada com tamanha beleza. Jamais imaginei que fosse tão bela, tão formosa. E que paz ela transmite! Eu poderia ficar ali, diante daquela beleza por horas, sem pensar em absolutamente nada e estaria feliz.

De lá, fui encontrar uma amiga muito querida e amada, que não via desde o ano passado, mas que sempre é uma grande alegria encontrá-la. Fomos passar o resto do dia em Niterói. Na ida, observava ao fundo uma cidade iluminada pelo astro rei, que sorria feliz para aqueles que foram ao seu encontro.

Mas beleza mesmo, tive a felicidade de ver na volta. Da ponta da ponte, observo ao fundo, próximo do Pão de Açúcar, um céu com cores jamais reproduzidas por qualquer pintor, num dégradé extraordinário que jamais me sairá da cabeça. Era o sol, se despedindo do domingo, pra nascer em outros continentes bem distantes do nosso, mas deixando registrada a sua marca.

Meus amigos disseram que eu realmente estava recebendo um presente divino, pois tantos anos de Rio de Janeiro, eles nunca haviam visto uma beleza tão extraordinária. Quanta emoção! Os olhos marejaram novamente e eu agradeci outra vez a beleza, a oportunidade e meus olhos, por poderem ver uma cena tão rara e perfeita da criação.

Domingo foi dia de futebol. Corinthians jogando em São Paulo e Flamengo jogando no Rio. Meus dois times prediletos estavam em campo disputando partidas importantes. Meu coração pulava a cada lance. Em São Paulo, meu Corinthians ganhou, mas eu estava distante e sem muita emoção pra festejar, embora muito feliz. No Rio de Janeiro, o Flamengo ganhou também, mas o mais impressionante foi sentir a cidade vibrar no momento do gol. O Rio balança, o Rio treme, o Rio grita “gol” em uníssono. Impressionante, emocionante.

Encerrei o dia à beira da Lagoa, ouvindo chorinho, bebericando chopp e apreciando petiscos. Não havia em meus pensamentos qualquer preocupação, qualquer dor. Não havia saudade, não havia medo, nem perspectivas. Somente a paz que meu espírito estava envolvido naquele momento e experimentando uma sensação de liberdade, altamente necessária pra uma sagitariana. A Lagoa virou, definitivamente, meu refúgio de paz. Lá se foi o domingo e eu, adormeci feliz.

Segunda-feira novamente madruguei pra aproveitar cada instante do feriado que ia se aproximando do fim. Escolhi meu refúgio predileto pra iniciar o cenário perfeito de um dia que certamente ficará nos escaninhos da minha memória.

Fui correr em volta da Lagoa. 8 km de pura beleza e mais uma vez, ganho de presente uma visão maravilhosa: Lá no alto, o Redentor com os braços abertos e o sol bem pertinho, fazia faixas de luz por entre os braços do Mestre e no chão, nos galhos de uma árvore bem verde, uma arara azul exibia-se linda para os caminhantes. Quanto mais as pessoas paravam pra observá-la, mais graça ela fazia. Cantava, andava de um lado pro outro do galho e a cada foto, uma nova pose de uma ave que parecia entender tudo o que se passava. Nas filmagens, ela cantava, ela se exibia e mostrava que estava ali pra aparecer mesmo.

Sentei-me embaixo de uma árvore, quase de frente pro Cristo e, com os olhos pro alto, chorei agradecendo as bênçãos. Foram muitas em minha vida!

Naquele lugar maravilhoso, acho que foi onde mais me senti perto de Deus. A natureza me presenteava a cada instante, com imagens, sons de pássaros, barulho das águas. Que paz indescritível eu senti e como eu gostaria de poder dividir isso com todas as pessoas. Os olhos ainda marejam com as cenas que me voltam à memória.

Depois de muito agradecer, fui descarregar de vez as energias no mar. Aquela areia branquinha, refletindo a luz de um sol que esquentava a 33 graus. O mar ainda mais limpo e calmo. As ondas passeando entre as pernas dos banhistas. As gaivotas com seus vôos rasantes em busca do alimento e eu ali, como expectadora de um espetáculo inebriante.

O falatório dos turistas sequer atrapalhou meus pensamentos. Por alguns momentos me senti sozinha naquele cenário iluminado, pois não ouvia nada, não via ninguém. Meus pensamentos voavam longe e meus olhos percorriam hora o mar, hora as montanhas, hora os pássaros e embora eu parecesse solitária, estava em paz, com Deus no coração e com meu espírito livre, distanciando-se e me mostrando que não há limites para a felicidade, para o amor, para a liberdade.

Houve trilha sonora. Em minha mente, cada cena merecia uma música. Na vitrola do meu coração tocou Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto, Marina Lima, Cazuza, Tim Maia, Gonzaguinha, Elis Regina, Toquinho, Lenine (“Se escreveu, remeta”), João Bosco e muitos outros que cantaram as belezas e as mazelas da vida com uma arte maravilhosa que ficará pra posteridade e serão cantadas em muitas outras ocasiões, mas que me remeterão pra esse fim de semana, pra sempre.

Horas depois, retorno pra um novo reencontro e novamente houve alegria, emoção e um bate-papo que durou muitas, muitas horas e incontáveis palavras jogadas ao vento. Emoções, sentimentos, paz, conselhos e a alegria encerraram com muitos planos a segunda-feira que será inesquecível.

Terça-feira era o dia de voltar pra casa, pra realidade e deveria ser perfeita, pra fechar com chave de ouro, mas alguma coisa aconteceu: o dia chegou cinza, nublado, com ares de chuva e frio.

O Redentor estava escondido entre as frias nuvens que encobriam a cidade. Na rua as pessoas usavam agasalhos e corriam apressadas pra fugir da chuva que se aproximava. Não houve praia. Iniciamos o dia de outro jeito, mudando os planos. Primeiro a leitura do tarô, mostrando que tudo anda bem e que só preciso arrefecer nos momentos de muita euforia, manter os pés no chão e a vigilância constante; trabalhar a espiritualidade, pois chegou o momento disso.

Em seguida fomos caminhar no Jardim Botânico. Fui coroada com uma chuva fina que veio pra abençoar a caminhada entre as árvores e exalar o cheiro do verde, da mata atlântica que está lá, preservada. Alí, definitivamente encerrei meu fim de semana, sentindo-me em profunda paz de espírito, com o coração feliz e a alma cheia de uma leveza impossível de ser descrita. Senti-me em casa, filha daquele solo sagrado.

Envolvida entre as minhas maiores paixões: arte, história, política, amigos, natureza e paz, foi essa a história do fim de semana inesquecível.

Despedi-me, com o coração num misto de felicidade, paz e tristeza por estar indo embora. Embarquei e nesse instante, uma chuva forte caiu. Era o Rio de Janeiro, chorando a minha despedida. Do lado de dentro da janela, as minhas lágrimas caíam junto, agradecendo as bênçãos, mas juntando-se às águas que vinham do céu.

Rio, eu choro com você e te agradeço por me receber sempre, com tamanha alegria.


Flávia
22/04/2009

domingo, 3 de maio de 2009

Pra você que não veio

por Flávia Fernandes


Foram apenas dois meses. Exatamente 8 semanas, no entanto nós já te amávamos de uma forma muito intensa, incondicional.

Já imaginávamos seu rostinho, seu jeitinho lindo. Desenhávamos em nossa mente a sua imagem, a sua personalidade.

Se pareceria mais com a mamãe ou com o papai? Seria calmo ou chorão? Engraçado ou mais fechado? Muitas eram as indagações, mas você já era como nós queríamos que fosse.

Eu, em meu papel de tia, queria um garoto – sim, eu sempre espero pelos meninos – pra mimar, pra fazer aquilo que os pais não permitem. Coisas como levar pra passear, encher de chocolates, balas e refrigerantes, contrariando às milhares de recomendações maternas.

Queria te levar pro parque, pra praia, pro mato. Queria te levar pra dormir em casa no fim de semana e brincar de guerra de travesseiro, de pular no colchão, de te arrastar no tapete pela casa, como se fosse carrinho e ouvir sua risadinha deliciosa.

Ouvi em minha cabeça milhares de vezes em que sua mãe ralhava comigo por fazer tudo errado, por mimar você e te vi correr pra mim, buscando a asa protetora da titia que te defende de todos os males do mundo, como o alface, a ervilha, o arroz com feijão, o bife de fígado, o castigo pelas suas artes, a escola e todas as chatices que existem.

Sonhei em te carregar nos braços, sonhei em brincar com você no chão, em jogar futebol, em dançar uma dança bem esquisita e em inventar palavras divertidas pra rirmos muito e depois, te ver dormindo como um anjo, cansado porém feliz. Feliz por ser amado, por ser desejado e por modificar completamente a vida da família.

Sim, você foi muito amado e muito desejado.
Te amamos tanto que nem é possível verbalizar, mas acredito que você sentiu e sabe a dimensão disso, mas infelizmente você não veio e todos esses sonhos calaram dentro do peito. O som das risadas abafou. As lágrimas e a tristeza substituíram a alegria e a expectativa frustrou os sonhos.

Veio a decepção, a dor e o famoso “por quê?”. Veio a angústia e o procedimento médico-hospitalar que fere de forma cruel, mas que é necessário.

Por esses dois meses, que passaram rápido mas que foram intensos, conversei diariamente com Deus, pedindo bênçãos e luz pra você e acredito que essa luz foi tão intensa que você, sabido que é, escolheu permanecer no mundo em que está à salvo dos perigos mundanos.

Acho que você puxou a titia! Escolheu continuar num mundo muito melhor que este em que vivemos, cheio de dramas, de perigos e de inconstância.

Particularmente acho que o lado de lá é muito melhor, é onde existe a felicidade e onde não precisamos de uma série de coisas que aqui são necessárias pra viver. Lá não precisamos viver em busca da felicidade porque é lá que ela reside e então eu compreendo a razão da sua escolha.

Não acho que não estivesse preparado pra estar aqui e muito menos que tenha desistido, mas entendo se acaso a escolha tenha sido sua, afinal o lugar em que você mora é infinitamente melhor.

Só quero que saiba que você continua sendo muito amado e muito desejado e, quando quiser vir, estaremos todos aqui esperando pra te receber com o mesmo amor, o mesmo carinho e com ainda mais planos pro seu futuro.

Continuamos pedindo pra Deus te abençoar e te proteger. Emanamos nossas melhores vibrações e preces, pra que sejam recebidas por você em forma de luz e que isso tudo te ajude a se fortalecer ainda mais.

Por enquanto, você continua sendo um anjo lindo, iluminado que olha e zela por nós que aqui estamos.
Em breve, estará entre nós, trazendo essa luz e sua graça, enchendo nossa família de mais amor e nos ajudando a crescer e nos melhorar.

Sei que deve ser difícil livrar-se das asinhas angelicais e vir pra cá, tornar-se um de nós, um igual, um mero mortal, mas pra um anjo não deve ser assim tão doloroso, pois sabe em qual missão estará a caminho e, mesmo que estando em um corpo material, continuará exteriorizando o anjo que hoje habita o mundo dos espíritos.

Nós te amamos, meu menino, meu anjo amado e esperamos por você aqui, na hora em que o nosso Pai Celestial achar que deve ser!

Esperamos por você!

Titia Flávia
07/04/2009